quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Imperfeição

Há um toque especial em cada corpo, cada alma, cada jeito e detalhe. Uma pincelada diferente na tela do pintor, uma cicatriz marcada pelo tempo, uma sombra não planejada, um deslize, uma ruga, um buraco ousado na madeira, um plano rabiscado, um sonho adiado, um dente arrancado, um garoto zangado, o mocinho malvado, a perfeição foi perfeitamente enterrada. O toque imperfeito era o que faltava, a cereja do bolo, o ponto final, um conto real. 


Olhos castanhos

Olhos castanhos, fitou-me com doçura, queria me dizer algo que os seus lábios não sabiam expelir, entregou-se de forma sutil, crescente e infantil. Mãos, vestidos, passos, abraços, riso, cachinho, sopro, flores, esperança e AMOR. Eu estava exatamente onde queria estar, exatamente ali, olhando pra você.

Sentidos



O antigo banco permanecia lá,
eu apenas me sentei, nostálgica e cansada.
Tirei os sapatos, fechei os olhos e desci os pés descalços
sobre as folhas secas.

Sentia-me estranha.
Era algo contraditório.
Estar ofegante e tranquila?
Percebi que era o passado, que a convite
invadia implacavelmente os sentidos.

Sentia de maneira perfeita e assustadora
o cheiro da tinta fresca e o gosto da chuva.
Recriava todos os passos.
E poderia jurar que ouvia bem ao longe
aquelas vozes agudas e familiares.

O vento apressava-se e eu permaneci estática.
Afinal não é preciso muito...
Vou te contar um segredo!
Só...

Permita-se  ao inusitado.
Numa tarde nublada e comum,
Não apenas lembrei,
Eu SENTI os melhores anos da minha vida.



Florescer

Abri os olhos e não sei ao certo como cheguei aquele lugar, cercada por pessoas estranhas, reclusa, tímida e intimidada, sentei-me no antigo banquinho da praça, o entrosamento era quase impossível, tão improvável, minha franja desajeitada não me impediu de enxergar minha única distração, mergulhei nas flores e me senti em casa.

  

Poeira

...e quando tirei o seu velho paletó do armário, me dei conta que só faltava aquilo pra que você deixasse de existir, havia muita poeira nas mangas, havia muita poeira nos meus sapatos e havia muito mais na palavra amor. Arrumei a bagunça.


Chovia

A chuva nunca havia me incomodado como naquele dia, as gotas pareciam uma sinfonia desafinada de músicos loucos,  o barulho me enlouquecia, o frio me machucava como se existissem milhares de agulhas perfurando todo o meu corpo, eu gritava desesperadamente, bem lá no fundo, mas as palavras intimidadas, esconderam-se, torturaram-me,  a chuva deixou-me e enfim percebi, a culpa não era dela, o sol queimava lá fora e ainda doía, a tempestade era você.